domingo, 28 de setembro de 2008

Não, minha casa não está a venda!

Sabe o dia que a única coisa que você quer é comer um chocolate? O dia que o cobertor é seu melhor amigo, o filme romântico de final infeliz é perfeito e pijama é roupa mais elegante que você consegue imaginar? Aí, você, que nunca deu uma olhada no maldito horóscopo, resolve passar o olho por cima dele e nele está escrito algo como "você terá um péssimo dia, sem sorte no jogo e pior ainda no amor".

Depois para. Respira fundo. Olha-se no espelho. Respira fundo novamente. Então seu rosto fica com uma expressão sofrida, a história desgraçada da sua vida passa pela sua cabeça e lágrimas saem de seus olhos. Em seguida você abraça seu urso - sim, aquele urso bobo e cheio de bactéria que você ganhou com 8 anos de idade -, pega seu mp3 escuta músicas que questionam o porquê da vida ser assim, a lua está tão distante do sol, nem todos terem um amor para a vida toda e que levar um tiro é melhor que sofrer de amor.

Então você para. Respira fundo mais uma vez. Olha o celular. Percebe que ninguém te liga; ninguém te mandou mensagem. E chora novamente. Pensa em jogá-lo pela janela, mas uma voz interior diz "não jogue, você pode acertar a cabeça de alguém que está passando na rua". E você não joga.

Aí resolve assistir um programa desses que ninguém gosta, e que além de você, apenas a mãe do apresentador o assiste. Pelo primeiro segundo do dia você esquece a sua desgraça. E continua assistindo. Dá até um sorrisinho. Continua assistindo. E esquece por que estava triste. Volta a dar mais uns sorrisinhos. De repente o telefone toca é um cara que pergunta se sua casa está a venda. E você reponde “não”. Mas ele insiste em questionar se sua casa realmente está a venda. E você diz, já exaltado, que NÃO, e por isso desliga o telefone sem se despedir. Pronto, agora você não tem mais tristeza, mas raiva!

sábado, 6 de setembro de 2008

Não vi Pelé... mas vi o telefone

"Tudo o que é sólido se desmancha no ar". Essa frase de Marx não sai da minha cabeça. Também, lendo um livro com esse título, creio que por um bom tempo vou me lembrar dessa sentença. Mas outro motivo não me faz parar de pensar nisso: no futuro, estamos ferrados.

Nós, não! Nossas ilustres criações. E isso me deixa com certo medo. Na verdade não é medo, e sim certa nostalgia. Já parou para pensar que, possivelmente, em menos de um século, o telefone será banido? Sim, porque pense comigo: para que vai servir um telefone – esse aparelho grande e limitador -, se eu poderei ter um celular que é câmera, televisão, MP3, computador, blá, blá e blá?

Só de pensar que esse pobre aparelho residencial vai sumir, acaba com certa parte de minha vida. Lembro quando meus pais colocaram telefone em casa. Eu tinha 7 anos. Antes não o tínhamos porque moravamos perto dos meus avôs e do resto da família. Minha escola era grudada à casa dos pais de meu pai. Se alguém quisesse falar conosco, era só ir lá em casa, porque todo mundo sabia onde residíamos. Tudo era junto. Era quase uma aldeia indígena. Além do mais, tinha um orelhão em uma das esquinas da rua - nessa época não tinha o cartão telefônico, ainda usávamos fichas telefônicas.

Porém uma hora as pessoas começam a mudar para longe. Aquele vizinho, com quem contávamos para uma situação de emergência, já não podia mais estar presente. Minha mãe tinha enjoado da vida de dona de casa e resolveu voltar a trabalhar. Tudo foi se distanciando, e aí não tivemos outra escolha. Recorremos ao telefone! E para mim aquilo foi um dos acontecimentos mais surpreendentes de minha vida.

Na época eu não usava muito, eu era só uma criança. Entretanto, anos mais tarde, lá na minha pré-adolescência, comecei a usá-lo constantemente. Passava mais de 4 horas sem parar de falar. Toda sexta-feira era uma ordem telefonar depois de Malhação e desligar antes do Globo Repórter. Isso quando não tinha ligações especiais, e passava mais de ¼ do dia falando e falando.

Eu falava tanto, que, quando deixei de viver em casa e fui para apartamento, minha mãe decidiu não colocar telefone, e por isso, eu juntei dinheiro e comprei meu primeiro celular. Foram mais de dois anos sem aquele aparelhozinho. E ela só resolveu devolvê-lo quando mudamos novamente de residência. Porém eu já tinha descoberto a eficiência do celular e do MSN.

E hoje eu mesma contribuo para o fim do pobre coitado do telefone. Entretanto, daqui uns anos, quando eu tiver na minha cadeira de balanço com meus bisnetos, e estes me perguntarem "o que é telefone? a senhora já viu um?", responderei: "não vi Pelé jogando, nem vi ao vivo o show da Madonna, mas vi o telefone".