sábado, 6 de setembro de 2008

Não vi Pelé... mas vi o telefone

"Tudo o que é sólido se desmancha no ar". Essa frase de Marx não sai da minha cabeça. Também, lendo um livro com esse título, creio que por um bom tempo vou me lembrar dessa sentença. Mas outro motivo não me faz parar de pensar nisso: no futuro, estamos ferrados.

Nós, não! Nossas ilustres criações. E isso me deixa com certo medo. Na verdade não é medo, e sim certa nostalgia. Já parou para pensar que, possivelmente, em menos de um século, o telefone será banido? Sim, porque pense comigo: para que vai servir um telefone – esse aparelho grande e limitador -, se eu poderei ter um celular que é câmera, televisão, MP3, computador, blá, blá e blá?

Só de pensar que esse pobre aparelho residencial vai sumir, acaba com certa parte de minha vida. Lembro quando meus pais colocaram telefone em casa. Eu tinha 7 anos. Antes não o tínhamos porque moravamos perto dos meus avôs e do resto da família. Minha escola era grudada à casa dos pais de meu pai. Se alguém quisesse falar conosco, era só ir lá em casa, porque todo mundo sabia onde residíamos. Tudo era junto. Era quase uma aldeia indígena. Além do mais, tinha um orelhão em uma das esquinas da rua - nessa época não tinha o cartão telefônico, ainda usávamos fichas telefônicas.

Porém uma hora as pessoas começam a mudar para longe. Aquele vizinho, com quem contávamos para uma situação de emergência, já não podia mais estar presente. Minha mãe tinha enjoado da vida de dona de casa e resolveu voltar a trabalhar. Tudo foi se distanciando, e aí não tivemos outra escolha. Recorremos ao telefone! E para mim aquilo foi um dos acontecimentos mais surpreendentes de minha vida.

Na época eu não usava muito, eu era só uma criança. Entretanto, anos mais tarde, lá na minha pré-adolescência, comecei a usá-lo constantemente. Passava mais de 4 horas sem parar de falar. Toda sexta-feira era uma ordem telefonar depois de Malhação e desligar antes do Globo Repórter. Isso quando não tinha ligações especiais, e passava mais de ¼ do dia falando e falando.

Eu falava tanto, que, quando deixei de viver em casa e fui para apartamento, minha mãe decidiu não colocar telefone, e por isso, eu juntei dinheiro e comprei meu primeiro celular. Foram mais de dois anos sem aquele aparelhozinho. E ela só resolveu devolvê-lo quando mudamos novamente de residência. Porém eu já tinha descoberto a eficiência do celular e do MSN.

E hoje eu mesma contribuo para o fim do pobre coitado do telefone. Entretanto, daqui uns anos, quando eu tiver na minha cadeira de balanço com meus bisnetos, e estes me perguntarem "o que é telefone? a senhora já viu um?", responderei: "não vi Pelé jogando, nem vi ao vivo o show da Madonna, mas vi o telefone".

Um comentário:

Anônimo disse...

Acho que o msn e a evoluçao natural do telefone, quando aperfeiçoarem a imagem sera perfeito, mas gostei do seu texto,tambem sentirei falta do telefone!!!