domingo, 18 de janeiro de 2009

Faísca & eu

Desde pequena tenho medo de cachorro. Aliás, tenho medo de qualquer ser vivo que não seja da espécie humana, entretanto meu pavor é maior diante dos caninos. Tenho inúmeros motivos que explicam a minha fobia. O primeiro aconteceu há 17 anos, quando eu mal sabia falar e um cachorro da família - especificamente dos meus tios-avós - resolveu dar uma mordida em uma das minhas pequenas e finas pernas.

O segundo é o fato de que eu nunca tive um animal de estimação. Sempre quis ter, mas de acordo com minha mãe eu não consigo nem cuidar de mim direito, imagine então de um pobre e indefeso bichinho. A única vez que tive um bichinho em casa, ele morreu. Não! Eu não o matei. E acredite, o bicho era um cachorro. Eu tinha uns 6 anos. Eu e meus pais voltávamos do mercado e na garagem de casa um filhote vira-lata conseguiu entrar. Ele tremia. Meu pai achou que fosse frio, por isso colocou-o em uma caixa de papelão e no canto dela dois recipientes, um com água e outro com leite. Fomos dormir. Dia seguinte, quando acordei, fui ver como estava meu cãozinho. Ele estava do outro lado da rua morto. Faleceu durante a madrugada.

Enfim, há mais outras situações que colaboraram para minha aversão aos cachorros. E parece que quanto mais medo se tem, mais se atrai os caninos. E sempre foi assim, pelo menos comigo. Poderia falar aqui sobre as minhas quinhentas fugas para me proteger desses bichanos, mas prefiro contar apenas uma, que aconteceu hoje, nessa tarde de domingo.

Sem nada para fazer, resolvi ir a um parque que tem aqui perto de casa. Mas como de costume, eu consegui me perder - pois é; eu consigo me perder no meu próprio bairro. Entrei na rua errada, e logo avistei aquele bicho de quatro patas, marrom com manchas preta, pequeno. Disfarcei na medida do possível o meu medo. Acho que não deu certo, logo que passei perto do pequeno ser, ele começou a me seguir.

Comecei a andar em zigue-zague para ver se ele desistia de me seguir. Mas depois lembrei que esse negócio de andar em zigue-zague só funcionaria se eu estivesse perdida no pantanal e me deparasse com um jacaré. Logo não adiantou! O bichano não desistiu de me seguir. Eu parava, ele parava. Eu andava, ele andava. Eu ia para lado, ele ia para um lado.

Pensei: "bom já que vai ficar nisso, vou ficar quieta e sem chorar". Depois de dois minutos de caminhada, um pouco mais tranquila, olhei direito para o animalzinho, e constatei que era uma fêmea. Sei lá por que razão, mas me tranquilizei um pouco.

Na metade do caminho, quando comecei a reconhecer o local, um bêbado parou e me perguntou: "esse cachorro morde". E respondi que não sabia; que não era meu. E o bêbado me aconselhou tomar cuidado.

Adiante, olhei para cima e vi um dos prédios que é vizinho ao parque. Percebi que era só virar à direita e pronto: chegava à rua do parque. E a cachorrinha ainda me seguia. Eu andava olhando para ela, para garantir que não iria ganhar uma nova mordida na perna.

As vezes ela andava muito próximo a mim. Mas percebi que quando eu parava bruscamente, ela se assustava e se afastava. Foi então que pelo menos 45% de mim se sentiu menos ameaçada, afinal éramos duas medrosas caminhando. Nessa hora pensei que já que ela ia me acompanhar, eu deveria dar um nome temporário a ela. Escolhi Faísca.

Avistei o parque. Fiquei feliz! Entrei lá, mas Faísca não. Ela deve ser um desses cachorros do bairro e por isso já aprendeu que cachorro sem coleira não pode colocar as patinhas lá dentro. Não deu tempo de me despedir. Uns garotos, sentados na calçada, chamaram-na.

Caminhei durante uns vinte minutos no local, pensando na Faísca e em outras coisas como o fato de que eu não sabia que existia uma pequena trilha graciosa no parque. Depois novamente encontrei o lugar pelo qual entrara. Virei a esquerda rumo a minha casa, tranquilamente. Um minuto depois quem aparece? Sim, Faísca!

E me acompanhou até o portão de casa. Naquele mesmo esquema, eu observando-a. Pausando algumas vezes bruscamente para ela não se aproximar muito. Continuei fingindo que não tinha e medo. E finalmente cheguei em casa. Novamente Faísca percebeu que não poderia entrar. E seguiu reto.

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